domingo, 19 de setembro de 2010

E você, se arrepende?



Se for para analisar através do ponto de vista dos adolescentes "rebeldes sem causa", posso afirmar com todas as letras que tive uma adolescência invejável.
O meu botãozinho do "foda-se" ficou, durante muitos anos, ativado no Modo Super Turbo, de maneira que a diversão vinha sempre em primeiro lugar e a tal da consequência não passava de um termo chato que algum adulto infeliz havia inventado, só para encher o saco dos que sabiam como se divertir; as drogas lícitas e ilícitas, as festas de desconhecidos, os beijos e toda a putaria que essa fase mostra pra gente que é possível existir: tudo era visto como o êxtase da vida. Por mim e, é claro, pelos que me acompanhavam.
Uma coleção de histórias que ficarão trancadas a sete chaves, num baú de aço, no fundo da gaveta, no canto do porão. E isso é uma decisão atual.
"Histórias para contar para os netos", era o que eu dizia na época. Entretanto, tentei refazer esse mesmo comentário a mim mesma hoje e, diferente de outros tempos, ele passou a ter um ponto de interrogação no final, seguido de um "jamais"! Foi o que me fez concluir que, talvez, eu tenha me arrependido mais do que eu imaginava do que eu fui e das atitudes que eu tive.
Esse pensamento me levou um pouco além. Passei a pensar sobre o arrependimento.
Será que é certo me arrepender, nessa situação? Sentir vergonha, me ofender?
Concluí que não. E, indo ainda mais afundo, concluí que ninguém deveria se arrepender dessa fase, mesmo que tenha feito o oposto do que eu fiz. Por um simples motivo: ela traz aprendizado.
Ou vai dizer que, tudo o que você viveu lá atrás, não ensinou a você como construir a personalidade que tem hoje?
A verdade é que é na adolescência que passamos pelas provas de fogo que nos farão amadurecer; é nela que fazemos toda a merda que, no futuro, traz à nossa mente um realista "não vou cair nessa de novo"; é nela que sofremos as malditas decepções amorosas que, no futuro, entendemos que tinham necessidade de acontecer para que conhecêssemos a pessoa certa - nem que ela seja a pessoa certa por apenas um período de tempo; é nela que erramos por ainda não termos reconhecido o erro e, consequentemente, somos menos idiotas do que na fase adulta, quando muitas vezes insistimos no mesmo erro, tendo plena consciência disso.
Eu tive que passar por experiências detestáveis para aprender certas coisas.
Não trata-se de me tornar uma santa, ou de nos tornarmos todos santos. Trata-se, simplesmente, de aprendermos o que são limites e quando devemos aplicá-los. E, se é sendo adolescentes que descobrimos isso, comemoremos nossa adolescência, por mais frustrada que ela tenha sido!
É, campeão, se não fossem aquelas espinhas, hoje você não se acharia tão bonitão!
E, se foi essa fase louca que nos fez caminhar até aqui, arrependimento pra quê?