terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

@AquiNaTorre




A princesa Carmelita havia sido trancada na torre mais alta do castelo, pela própria família. Não por maldade, apenas por questões burocráticas: tratava-se de uma tradição familiar, vinda de muitas e muitas gerações. O termo de compromisso com o aprisionamento da filha – desde que completasse dez anos até o momento em que fosse libertada por um príncipe encantado – era assinado já no casamento, momentos antes do narrador dizer “e viveram felizes para sempre” e o logo da Disney saltar na tela; “mas e se nascesse um filho homem?” – ele não teria como nascer homem.  E pronto.

Carmelita – já com seus 17 anos – era feliz na torre. Tinha frigobar, academia, Nintendo Wii, internet wireless de 20MB, celular com acesso às redes sociais, TV 3D, box com as cinco primeiras temporadas de How I Met Your Mother;  só lhe faltava uma coisa: vontade de sair daquele lugar. Ela rejeitava cada rapaz que aparecia montado em sua Harley-Davidson branca.

Sua mãe, Rapunzel Neta, insistia para que a filha fizesse buscas diárias de príncipes no Facebook, mas nenhum lhe agradava, pois ela dizia ser uma adolescente moderna, que queria curtir a vida sem compromissos e, eles, sempre muito certinhos. Tinha, também, outros argumentos plausíveis, como “mãe, a senhora, por acaso, viu no Twitter que o índice de divórcios aumentou 93% nos últimos quatro anos? Vou me casar para quê?”, ou “depois o príncipe aparece, mal conheço o cara e a gente casa, descubro que ele é alcoólatra ou psicopata e, aí, já viu”.

A realidade era que a princesa estava extremamente viciada na Internet e tinha plena consciência de que os amores platônicos, que mantinha na rede, trariam bem menos dores de cabeça com o passar dos anos; notava que tudo era mais atrativo, mais interessante, quando se tratava do virtual.

Acabou por perceber que já havia recebido seu futuro marido e, com a aprovação do rei, que criou uma nova lei para permitir a cerimônia, aceitou o pedido implícito de liberdade: casou-se com o computador.





Por Helena Perdiz