domingo, 31 de outubro de 2010

Falta de Assunto



- Mas olha só, que surpresa, depois de tanto tempo! Tudo bem?

- Tudo e você?

- Bem também.

- Que bom!

- Sim, é bom.

- Bom que tá bem.

- É.

- Mas bem mesmo ou só "bem"?

- Bem mesmo.

- Então, tá bem.

- Opa.

- Tudo bem, então. Como é bom ouvir isso!

- Sim, é muito bom.





- Mas, pensando melhor, numa escala de zero a dez, em que número você classificaria esse "bem"?

- Não sei, cara, não parei para pensar nisso.

- É que só "bem" é meio vago, não acha?

- É, pode ser.

- Então?

- Então o quê?

- O número. O número do seu "bem".

- Sei lá, cara, acho que sete.

- Sete não é tão bem assim.

- Nem tanto.

- Certeza que não pode ser oito? Oito é acima da média.

- Pode ser. Ainda é cedo, né? Difícil decidir.

- Sim, é cedo.





- Mas e você?

- E eu o quê?

- Um número.

- Não sei, difícil definir.

- Entendi.

- Hum.

- É, difícil, difícil.

- Mas dá pra melhorar.

- Sempre, sempre melhora.

- Aham.

- Mas é isso.

- É isso. Acho que sete também, talvez sete e meio.

- Sete e meio?

- Sim, o quanto estou bem. Sete e meio.

- Ah, sim. É um bom número.

- Sem dúvidas.





- Vai demorar para ir?

- Vou sim, perdi o trem, estou esperando o próximo. E você?

- Também.

- Hum.

- Difícil.

- Difícil.

- Sim.





- Acho que seis está de bom tamanho.

- Sim, fiquemos no número seis.




Por Helena Perdiz

domingo, 24 de outubro de 2010

Trajetória



Era impossível avistar a metade do caminho. A estrada era longa e escura e apenas os vagalumes traziam a ela um pouco de luz – o suficiente para despertar a sensação de vida em meio ao ambiente sombrio.

Deram as mãos e seguiram em linha reta, sem nenhuma troca de palavras. O calor do toque era o que mantinha conectados os devaneios, que já não precisavam ser anunciados em voz alta para que se tivesse a certeza de que tinham ligação.

Não houve, na caminhada, nenhuma declaração explícita de afeto. Mas as mãos não se afastaram por um segundo sequer.

Não sabiam aonde chegariam, mas chegariam juntos. 

Eram uma só alma, que há pouco já foram duas.


Por Helena Perdiz

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O bom é ruim.



Você se acha bom no que faz, até perceber que, por aí, pode encontrar milhares de outras pessoas que também são boas no que fazem. Começa a bater aquela sensação meio desesperadora, a concorrência, a dúvida, "talvez eu não seja tão bom assim". E, quer a verdade? Não é mesmo!
Não é, pelo simples fato de que ninguém é. Nem você, nem as tais pessoas.
Quem pensa que é "tão bom assim", estagna. Achar que já atingiu a perfeição é não perceber que pode ir além, é colocar limites para algo que não deveria limitar-se: você. E ser limitado, definitivamente, não é ser "tão bom assim". Concorda?
Concordando ou não, o texto seguirá adiante, porque ele foi escrito antes de você ler e poder opinar. Malvada? Não, rápida. Mas eu perderia uma maratona pra você, considerando meu sedentarismo - e desconsiderando o seu.
Mas não foi de maratona que eu vim falar. Foi de você, não é mesmo? Você, que não é tão bom assim.
Já percebeu como é delicioso ser, ou melhor, não ser desse jeito? Quantos desafios, quanta adrenalina, quanta aprendizagem! É um salto de paraquedas a cada dia. Dá pra sentir o vento forte no corpo - e, muitas vezes, o tombo também. Mas, nesse caso, basta levantar e seguir em frente.
É, também não vim falar de autoajuda, apenas expressar uma opinião - que, por sinal, até me deixaria feliz se ajudasse.
E, falando em opinião, qual a sua sobre o texto acabar agora?